sexta-feira, setembro 04, 2009

Incêndios Florestais



Há algumas coisas que me chateiam (muito) no Verão. Uma delas é o jornalismo de reportagem sobre os incêndios florestais. Há sempre a informação de que as matas não eram limpas há anos e o olhar acusador para a pobre população da zona. Vivendo eu numa zona rural gostaria de explicar algumas coisas básicas que nenhum jornalista se digna a explorar:


1- A maioria dos terrenos florestais são pequenas parcelas que nem chegam a um hectar em terrenos íngremes e com acessos difíceis.


2- A maioria dos donos são trabalhadores rurais que "vivem da agricultura" e como tal têm rendimentos baixíssimos.


3- Para além dos rendimentos baixos e, devido à desertificação do interior, a maioria dos donos florestais são pessoas já idosas.


3- A natureza desses terrenos não permite uma limpeza mecanizada. É necessário trabalho manual na quase totalidade dos terrenos.


4- Contratar alguém para limpar uma mata é praticamente impossível. (Digo isto por experiência própria). Nem anúncios nos centros de emprego resultam. Não há pessoas disponíveis para fazer um trabalho tão árduo, nem com um salário bem superior ao salário mínimo.


5- Em muitos casos, o valor comercial do terreno é menor do que o que se pagaria a alguém para o limpar. O rendimento que um dono tira de uma pequena parcela de terreno é diminuto (vender meia duzia de árvores que demoram 20 anos a crescer não paga nem uma limpeza de 10 em 10 anos quanto mais uma limpeza anual). E há terrenos em zonas mais inóspitas que nem o rendimento de venda de árvores existe ou porque elas não crescem nessas zonas, ou porque são demasiado delgadas ou porque nem há acessos para as tirar de lá.


6- A limpeza de florestas tem de ser feita anualmente. No espaço de um ano a vegetação volta a crescer, principalmente nas zonas húmidas.


Tendo em conta, o que foi explicado acima apetece-me dizer que a ideia de limpeza das matas é só para lisboeta acreditar que é viável. E enquanto assim for, os incêndios continuarão ano após ano. Não interessam ideias que não podem ser postas em prática. Para quando o incentivo da reflorestação com árvores como os castanheiros que são resistentes ao fogo? Porque bem pior que ver uma área queimada é muito mais revoltante ver uma área que havia sido queimada e que agora é um eucaliptal. Eucaliptos que secam as zonas húmidas e que as tornam mais susceptíveis a incêndios. Eucaliptos que numa situação de incêndio ardem rapidamente e espalham facilmente o incêndio ao provocarem faúlhas leves que percorrem grandes áreas.


Muito raramente se ouvem propostas de reflorestação com árvores endémicas. Será porque sem eucaliptos não há indústria de celulose? E é este o preço que todos têm de pagar para alimentar a indústria da celulose?


Fica o desbafo de um (ite) revoltada com mais incêndios no horizonte.



Sem comentários: