terça-feira, junho 30, 2009

Homenagem à semi!

Esta coisa de estar fechada em casa a estudar tem muitos efeitos adversos como o andar insuportável mais vezes que o aconselhável, ficar carente mais vezes que o recomendado e asneirar constantemente (acabei de partir um candeeiro que a minha mãe adorava... o harry caiu-lhe em cima depois de umas páginas viradas com mais violência). Para contrariar o mau humor recorro a um antídoto muito eficaz: lembrar-me de episódios engraçados da vida das limoas (das outras... meus nem pensar ehheheeh :P).

E hoje, enquanto regressava ao capítulo dos transplantes hepáticos (pois, pois avancei..) e quase morria agoniada com a primeira frase que começa "Em 1960..", lembrei-me da semi-lemon. Para começar, médica mais médica que a semi não existe. A mais corajosa. A que não vacila nem um bocadinho mesmo quando se vê sozinha abandonada e gelada a meio da noite nas urgências de cirurgia geral. Para além disto (e dos caracóis perfeitos dos cabelos) ainda invejo a semi noutra coisa (inveja boa, claro!): na pontualidade. Eu que tenho um grave problema com relógios, despertadores (as aulas de manhã eram um sacrifício) invejo a pontualidade e o ar sempre fresco da semi. Talvez seja por isso que a lembrança da semi hoje me fez sorrir ( e a auto-desculpar-me das minhas asneiras porque até seres perfeitos erram! :P).

A história começa assim: Era uma vez há uns anitos atrás numa salinha de aulas do serviço de neurologia. A salinha era bastante estranha com remendos de azulejos e tijoleira muito sui generis que não deixavam enganar o passado daquela sala: tinha sido algures no tempo uma casa de banho. E para confirmar a origem ainda restavam duas torneiras de lavatório isoladas no meio da parede entre duas estantes de livros. Este cenário já fazia a mente desligar-se completamente da aula. Mas ainda havia mais. Aquele espaço exíguo era ocupado por 24 alunos que se apinhavam encostados uns aos outros ou empoleirados em armários. E o professor lá continuava a aula, projectando os slides na parede, englobando a única porta da sala. Lembro-me de durante as aulas haver alguns enganos e doentes abrirem a porta e ficarem desconcertados com o cenário de duas dezenas de médicos empoleirados, silenciosos, concentrados a fixarem a porta.. que eles tinham aberto. Depois de um momento de "what the hell..?" recuperavam a compostura, pediam desculpa e fechavam a porta. Acho que naquelas cabeças deveriam passar coisas inimagináveis porque só uma razão extraordinária justificaria o facto de 20 médicos estarem em silêncio enclausurados numa casa de banho. A razão é apenas uma: não havia espaço... os alunos multiplicam-se.. o hospital não cresce... as casas de banho não fazem falta nenhuma (pois pois)... logo vamos fazer salas de aula nas casas de banho. Depois deste contexto.. falta meter a semi nesta história. Pois um belo dia, a semi sempre muito briosa da sua pontualidade, irrompe pela porta. Nós não a vemos porque estava tapada pela tela onde são projectados os slides (naquele dia excepcionalmente havia uma tela)... só vemos os ténis inconfundíveis. Depois de um momento de pausa (desconfio que deve ter pensado que se tinha enganado na "casa de banho" pois a casa de banho habitual não costumava ter coisas brancas a taparem-lhe a visão dos seres enfadados em aulas), a semi luta para contornar o monstro branco. Nesta altura já está tudo em silêncio e expectante. Alguns alunos devem ter acordado com a falta do ruído monocórdico da voz do prof. Todos os presentes se concentraram naquela luta contra a tela e eis que surgem finalmente uns caracóis e depois o resto todo da semi. Ela avança confiante em direcção a uma cadeira vaga (que presumo que era a do prof, já que este se encontrava em pé... pois uma cadeira vaga naquele lugar tão densamente habitado só seria possível se fosse do prof). Continua o silêncio. Bem mais ou menos silêncio porque eu e see-the-light já estavamos desmanchadas a rir. Voltemos à semi.. sentadinha, com ar sério, já de caderno em riste para apontamentos fabulosos. E o próximo slide: fim. Aí a semi fica desconcertada... então a aula não começava agora?... logo seguido de um episódio de coranço enorme... e para terminar.. o prof que diz que a reter da aula fica o sentido de oportunidade (dos AVCs claro, claro) e já todos os alunos se riam menos a semi.

Desde essa altura a semi nunca mais foi a mesma... ficou com alergia a slides. Desconfio que não sabia que se tinha sentado na cadeira do prof (depois da vergonha não tive coragem de lhe dizer). E ainda bem! Senão ainda era hoje o dia que a semi evitava sentar-se em cadeiras solitárias.

Moral da história: ainda bem que existes semi! Por muitas coisas... mas também porque por tua causa aquela salinha com torneiras e azulejos de casa de banho ficou cristalizada na minha memória... e sempre que lá passo sorrio. Mesmo que o dia esteja a correr muito mal!




PS- Confesso que isto não é uma mentira pegada, mas está romanceado e exagerado. Mas os olhinhos da ite só vêem o mundo cor de rosa e tá bem! Confesso que o objectivo disto é provocar a semi. Pronto, está confessado. Perdoas-me semi?

1 comentário:

semi lemon disse...

Ite estou sem tempo e não sei se alguma vez mereci ou merecerei esta homenagem... (médica mais médica? oh quem dera será que algum dia chegarei lá?)
A vantagem de andarmos em trio para além de proteger contra os frios de Inverno vem destas memórias a 3, que bem que sabe permanecer em estado de triplosaudades.
Em relação ao episódio acrescento que ainda há 2 semanas numa daquelas apresentações de cirurgia todas xpto com direito a acepipes e tudo me sentei na cadeira do orador, a sra professora doutora xyz, foi um belo momento descobri agora que deve ser uma tendência ja que tenho um historial neste tipo de atitudes.
Ainda bem que existimos!