Não sei por que me lembrei de ti hoje. Talvez o carro velho cor de leite de creme encostado numa viela escura ou os desenhos de sereias espalhados pelo chão a anunciarem um novo salão de chá…talvez, talvez. A verdade é que surgiste no meu pensamento enquanto caminhava apressada naquela avenida ladeada por tílias que mascaram o peso do ar poluído. Lembrei-me de ti e da tua paciência quando me mostravas a beleza nos sítios mais improváveis…..como as tílias débeis no meio do betão. Lembrei-me dessa história infinitas vezes contada e outras tantas modificada. Contava-la para me abrandares da vertigem rápida de alguns dias, contava-la para me arrancares da lassidão preguiçosa de todos os outros dias, contava-la para me veres sorrir encantada ou ainda para me embrulhares ainda mais no meu já muito enrolado novelo interior. A tua partida foi como a tua chegada…, silenciosa, camuflada pela sombra da rotina de sempre. De ti pouco restou a não ser a memória da primeira vez em que me perguntaste "sabes por que razão o amor é cego e louco?" ….ah como eu te agradeço por não teres desistido perante o meu olhar impaciente a roçar a ironia. Apaixonei-me naquele instante em que a serenidade açucarada da tua voz parecia perguntar a banalidade mais cinzenta do mundo como "sabes onde deixei a tela e os pincéis?" (...)
quarta-feira, abril 05, 2006
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1 comentário:
"As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas."
Álvaro de Campos
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